Refugiados Sírios


Muita gente não quererá a minha opinião…pois então não leiam!

Mas sei que a nossa opinião será sempre reflectida, de alguma forma, com menor ou maior expressão em quem, em algum momento seja portador de importantes decisões … E na ausência da possibilidade de opinar de uma forma consequente sobre as atitudes do meu querido país para com aquilo que se passa no exterior das nossas fronteiras, resta-nos a conversa!! E se calhar no meio do bla, bla, bla, se possa esclarecer , e informar os mais desatentos!

Gostava que pudéssemos partir do principio que para o correcto julgamento do que quer que seja, é absolutamente indispensável, absorvermos a genuína visão das diferentes partes envolvidas… Pois, eu continuo recheado de dúvidas sobre as grandes questões que dominam a actualidade e dominam os (des)equilíbrios da humanidade… Quantos é que podemos receber? Quanto é que estamos dispostos a empobrecer para que “outros” deixem de correr risco de vida ou passar fome? Mas há algo que gostaria… ou mais até sinto que tenho a OBRIGAÇÃO, de escrever para quem quiser ler…. Sentir o pulso a este povo Sírio, não deixaria nem o mais desumano dos críticos dos refugiados, indiferente…

Eu ouvi as suas histórias, tentei perceber o que seria ter a minha família dividida pelas linhas da guerra civil…. Vi nas lágrimas de quem perdia os seus queridos, o reflexo duma alma de quem perdeu o seu país…. De quem sente que a sua terra, o seu porto seguro é agora um mar de dor e sofrimento… Muitos ostracizados por se recusarem a alinhar com o governo e matar os seus compatriotas…. mas nessa convicção tiveram de deixar para trás mulher e filhos… Que escolha é esta? Talvez a última que gostaríamos de fazer! Identifiquei-me com as pessoas! Fiz amigos! Sabia que muitos eram capazes de dar a vida por mim… Acreditam numa causa, na democracia! Mais não querem do que todos nós! Liberdade!

(Camião que por simpatia ao passar sem carga ajudava os refugiados,
a atravessar a fronteira da Síria para a Turquia, de cerca de 10kms)
Antes de Março de 2011, a Síria tinha 21-22 milhões de habitantes… mas o seu “querido” ditador respondeu aos apelos por democracia e liberdade com a maior violência imaginável, como expressão de uma raiva, inspirada na outrora eficaz estratégia do seu pai, em controlar as vozes de discórdia… Diz Bashar Al Asad, que no final ficarão apenas 6 milhões de Sírios vivos (apenas os Xiitas), e destrói, sem apelo nem agrado, os sonhos (legítimos digo eu) do seu povo, dizimou cidades, com recurso a qualquer tipo de estratégia que cause o maior número de mortos… Ninguém me contou…. vi e ouvi, esta máquina de guerra assustadora… Assim como vi e ouvi, os sonhos de um povo, amantes da sua pátria, unidos pela vontade de um mundo melhor….

Mas para a confusão de muitos, os terrores não acabam nesta guerra civil, mas na terrível e arrepiante ameaça a que agora chamamos Estado Islâmico… A opressão de proximidade desta força unida pelo ódio disfarçado de religião, fazia tremer de medo homens e mulheres….. que mais do que nunca…. encurralaram um povo entre a espada e a parede! O ódio cego de um ditador sem misericórdia, capaz de destruir todo o seu país e os 70% do seu povo para ficar no poder, E talvez a ideologia mais sanguinolenta do planeta, que nem é Estado, nem muito menos Islâmico… E assim, são 8 milhões de deslocados e 4 milhões de refugiados… Dispostos a correr todos os perigos pelo sonho de uma vida digna… 

(Eu nesse camião a passar a fronteira Síria-Turquia, e feliz
por ver a guerra pelas costas)
Acho pouco importante o ratio de muçulmanos que o meu país ou a europa ficará….. é a taxa de humanidade e consequente felicidade, a uma escala global que deve orientar as nossas reflexões e posteriores atitudes…

Atravessei a fronteira para dentro da Síria, claramente em sentido contrário à maioria do povo…. e por lá ter estado gostava de aqui deixar o meu testemunho de povo fantástico que me acolheu e tanto ensinou…. Quando meses depois, atravessei novamente a fronteira para a Turquia, antes de respirar fundo e sentir a liberdade, olhei para trás, e prometi a mim mesmo que nunca, mas NUNCA me iria esquecer daquele povo! Pois podia ser o meu!


Façam-se ouvir……é de pessoas que falamos….e não de números!