Empatia e os Números


O mediatismo da gruta da Tailândia fez-nos a todos pensar, sobre o que é que é notícia ou não e com que dimensão. Ao contrário do que muitas vezes ouvimos, não são os media que decidem o que é notícia, somos todos nós. As notícias assim como os políticos são escolhidos por nós e são um espelho do que nós somos... como tal, cada vez mais o queixume do que é ou não importante deve acima de tudo ser transformado numa mudança dentro de cada um de nós.
Apesar de vivermos num mundo onde o enfoque é muitas vezes “a lei do mais forte”, algo egoísta, algo interesseiro, e muito desigual, onde quem faz melhor, ou é mais bonito é recompensado com dinheiro e reconhecimento.... Neste mesmo mundo o colectivo e os seus feitos sustentados pela empatia que sentimos uns pelos outros é também um sentimento poderosíssimo.
Empatia, é um dos sentimentos que nos leva a fazer coisas mais extraordinárias.
E porquê então tanta atenção nesta equipa de futebol das montanhas da Tailândia? Porque são crianças, porque é uma situação com contornos inéditos, porque até simpatizamos com a Tailândia e o Budismo, porque a solução era de fácil compreensão e alcançável, porque é uma história espetacular, e porque nos ilumina com esperança e porque empatizamos com os miúdos e as suas famílias.

Porque se formos honestos e acreditarmos que todas as vidas têm o mesmo valor, concordamos que as nossas atenções deveriam ser atraídas por outros focos.
No Japão morreram 150 pessoas em dias, pelas cheias. Conseguimos empatizar? Não. Estão mortos, não podemos fazer nada muito menos por desastre natural.
No Mediterrâneo, morreram 600 pessoas afogadas em apenas 4 semanas. Conseguimos empatizar? Não. Apesar de serem mulheres e crianças incluídas numa morte aterrorizadora, são milhares todos os anos e não sentimos capacidade de alterar o rumo. Ficamos furiosos pela imagem icónica da criança síria que veio dar à praia na Turquia. Enraivecemo-nos, mas foi-se diluído no tempo, ainda que as mortes continuem.
As zonas de conflito são de longe as maiores tragédias humanitárias, mas a nossa empatia insiste em dirigir-se para outro lado. A Síria é uma gruta que encurralou milhões de pessoas nos últimos anos, mas não há mergulhadores que queiram ir lá salvá-los. E quantas grutas mais há?
Segundo a “Save da Children” 1,2 biliões de crianças, estão em risco de pobreza extrema, ou guerra, ou descriminação de género. Que empatia nos causam estes factos? Nenhuma.

Ficamos agarrados à gruta da Tailândia, porque sentimos empatia mas muito mais porque gostamos de entretenimento. E se formos honestos ao olhar para dentro, mais honestidade encontraremos na busca do “salvamento” de questões infinitamente maiores.

Quando decidimos que uma vida é importante, somos capazes de ir resgatá-la à Lua. Ainda que com os mesmos recursos fossemos capazes de salvar milhões. Mas não o fazemos.

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