Notícias de O Público

Será possível chorar e rir ao mesmo tempo? Eu acho que sim...é esse antagonismo de sentimentos que África me transmite e foi também assim que fiquei ao ler aquilo que vos transcrevo do jornal "O Público" para quem quiser ler .... Indignado com o facto da pior guerra do nosso planeta desde que eu sou gente não ter mediatismo significativo e como tal a resolução desta não está para breve, vejo estas notícias sucessivas com alguma alegria, apesar de saber que poucos a leram e os que lêem provavelmente terão o reflexo defensivo de pensar "...estas coisas que acontecem sabe-se lá onde...." Mas eu estive lá.....e para mim não são números.... e a distância que protege a maioria dos que me lêem....não protege quem viu, ouviu e sentiu tudo isto sem filtros ou barreiras.....

Não temos que chorar e sentirmo-nos mal quando lemos isto, temos que encarar com um sorriso na cara e força na alma.... para lutar que os direitos básicos sejam garantidos a todos os seres humanos do nosso querido planeta.




Uma equipa das Nações Unidas que estuda os direitos humanos confirmou que elementos de dois grupos armados violaram no fim de Julho mais de 150 mulheres e crianças num ataque a uma aldeia da província do Kivu Norte, no Leste da República Democrática do Congo (RDC).


“As vítimas do ataque verificado na aldeia de Bunangiri estão a receber tratamento médico e apoio psico-social”, disse em Nova Iorque um porta-voz do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. Os atacantes pertencem às Forças Democráticas para a Libertação do Ruanda (FDLR) e à milícia local dos Mai-Mai-Cheka.


As FDLR são um grupo de hutus refugiados no Leste da RDC desde que em 1994 participaram no genocídio de cerca de 800.000 no vizinho Ruanda. Têm como chefe militar o general Sylvestre Mudacu, que chegou a ser comandante adjunto da Guarda Presidencial ruandesa, antes da chegada ao poder do tutsi Paul Kagamé, que há poucos dias foi reeleito Presidente do país.


Os hutus são o estrato social maioritário da sociedade do Ruanda e dedicam-se essencialmente ao cultivo da terra, enquanto os tutsis são criadores de gado e costumam ocupar os cargos administrativos e militares.


Segundo o Fundo das Nações Unidas para a População, que promove o direito de todas as mulheres, homens e crianças terem uma vida saudável, com oportunidades idênticas, mais de 8000 mulheres foram violadas no ano passado por diferentes facções em conflito nas províncias congolesas do Kivu Norte e Kivu Sul.


( E foi aqui no Kivu Norte onde eu estive a 87 Km (6 a 12 horas de 4x4) para Oeste de Goma)

Muitas vezes, as mulheres são violadas tanto por rebeldes como por soldados do próprio exército nacional, quando saem das suas aldeias ou acampamentos para arranjar lenha, água e outros bens essenciais. Alguns grupos humanitários já chegaram a classificar o Kivu Norte, uma região com uma população avaliada em 5,7 milhões de habitantes, como a zona mais perigosa da Terra para mulheres e crianças.




O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, enviou para a República Democrática do Congo (RDC) o seu adjunto para as operações de manutenção da paz, Atul Khare, a fim de investigar as notícias de violações em massa ocorridas no fim de Julho no Leste daquele país africano.


Grupos humanitários disseram que perto de 200 mulheres foram violadas durante uma operação que elementos rebeldes efectuaram durante quatro dias na província do Kivu Norte, a alguns quilómetros de um quartel da força da ONU estacionada na conturbada região.


Um dos grupos disse mesmo que muitas das mulheres foram sucessivamente violadas por conjuntos de dois a seis homens armados, pertencentes às Forças Democráticas para a Libertação do Ruanda (FDLR) e à milícia local dos Mai-Mai.


De acordo com uma equipa das Nações Unidas que se debruçou sobre o assunto, pelo menos 154 civis foram violados e maltratados aquando da ocupação de Luvungi e outras 12 aldeias distribuídas ao longo de um troço de 21 quilómetros, de 30 de Julho a 3 de Agosto. (EM 4 DIAS!!!!!)


Indignado com o que lhe comunicaram, Ban decidiu enviar de imediato para o terreno o indiano Atul Khare, antigo representante especial das Nações Unidas em Timor-Leste, de Dezembro de 2006 a Dezembro de 2009.


Para além disso, o secretário-geral deu instruções à sueca Margot Elisabeth Wallström, sua representante especial para os casos de violência sexual durante os conflitos, para que se encarregue da resposta a dar pelas Nações Unidas a este caso do Kivu Norte, normalmente considerado a zona mais perigosa da Terra para mulheres e crianças.


Wallstrom, que já foi comissária europeia das Relações Institucionais, e vice-presidente de Durão Barroso, disse que “este terrível incidente” confirma as suas impressões de uma recente visita à RDC, quanto à “natureza generalizada e sistemática das violações dos direitos humanos”.


Ban Ki-moon fez da protecção aos civis e do combate à violência sexual, particularmente no país em dada altura chamado Zaire, temas centrais do seu mandato à frente da ONU, iniciado em 1 de Janeiro de 2007.






Chacina de dezenas de milhares de hutus


ONU: crimes na República Democrática do Congo poderão ser considerados genocídio


27.08.2010 - 11:25 Por Jorge Heitor


Um relatório das Nações Unidas afirma que crimes cometidos na República Democrática do Congo (RDC) pelo Exército do Ruanda e pelos seus aliados poderão ser considerados um genocídio.

O relatório, já visto pela BBC e por alguns outros órgãos de informação, pormenoriza a investigação que tem vindo a ser feita ao conflito que decorreu na RDC de 1993 a 2003, dizendo que dezenas de milhares de hutus, incluindo mulheres, crianças e idosos, foram mortos pelo Exército ruandês, dominado pelos tutsis.

No entanto, o ministro ruandês da Justiça declarou não fazerem qualquer sentido estas afirmações de que o actual Exército do seu país procedeu à chacina sistemática de sobreviventes depois de haver ocupado acampamentos de refugiados hutus em território congolês, na região dos Grandes Lagos.

O relatório da ONU também refere violações dos direitos humanos cometidas pelas forças de segurança de todos os países que participaram naquela que tem vindo a ser chamada a “guerra mundial africana”, que oficialmente terminou em Julho de 2003, quando tomou posse o Governo de Transição da RDC.

Mais de cinco milhões de mortos

Foi a maior guerra da moderna história africana e envolveu oito países, bem como duas dezenas e meia de grupos armados, milícias de diferentes quadrantes. Em 2008, o conflito e as suas sequelas já tinham feito 5,4 milhões de mortos, na sua maior parte devido a doenças e à fome. Foi o pior de todos os conflitos havidos na Terra desde a II Guerra Mundial, mas nunca chegou a ter uma grande repercussão internacional.

Se bem que oficialmente tenha acabado há sete anos, o Leste da RDC, nas proximidades da fronteira com o Ruanda, continua muito volátil, com frequentes ataques a populações civis e violações em massa, como ainda esta semana foi noticiado.

O relatório final do alto-comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, já referido nas últimas 24 horas pelo jornal Le Monde e pela BBC, deverá ser formalmente publicado num dos próximos dias.

Reunião de emergência

Ontem, o Conselho de Segurança das Nações Unidas efectuou uma sessão de emergência para debater as alegações de que rebeldes hutus ruandeses se encontravam entre os elementos armados que no fim de Julho e início de Agosto violaram pelo menos 150 mulheres e crianças na localidade de Luvungi e em aldeias vizinhas, na província do Kivu Norte.

Quase em simultâneo com este último episódio, duas dezenas de peritos da ONU em direitos humanos documentavam, em centenas de páginas, aquilo que disseram ser ataques sistemáticos cometidos num passado recente pelo Exército do Ruanda e pela Aliança das Forças Democráticas para a Libertação do Congo-Zaire (AFDL).

Kagamé e Kabila

O actual Exército ruandês tem como figura emblemática o general Paul Kagamé, que tomou posse em 24 de Março de 2000, depois de ter dirigido a Frente Patriótica Ruandesa (FPR), cuja vitória sobre o Governo anterior, em Julho de 1994, acabou com o genocídio de cerca de 800 mil pessoas, cometido por extremistas hutus. E a AFDL era dirigida por Laurent-Désiré Kabila, pai do actual Presidente congolês, Joseph Kabila. Foi em 1997 que a AFDL, apoiada pelo Ruanda, assumiu o poder em Kinshasa, depois de ter derrotado o Presidente Mobutu Sese Seko.

A ser verdade o que dizem agora peritos das Nações Unidas, soldados tutsis ruandeses que derrotaram forças genocidas hutus teriam depois tido o mesmo tipo de comportamento, ao perseguirem os seus compatriotas que se refugiaram no território da RDC.

O tecido social ruandês, tal como aliás o do vizinho Burundi, é constituído por uma maioria hutu, tradicionalmente camponesa, e por uma minoria tutsi, mais dedicada à criação de gado, às tarefas administrativas e à carreira das armas. Hutus e tutsis não são etnias, mas sim estratos ou camadas sociais.