TEDxPorto



Arrepiante subir ao palco. Arrepiante enfrentar tanta gente. Arrepiante tentar representar muitos mais. Arrepiante deixar pedaços do meu coração a nu. Arrepiante querer falar pelos que não têm voz... Arrepiante ver aquela sala linda, cheia de gente a bater palmas de pé porque acreditam que todas as vidas são iguais!

Video oficial está neste canal no Youtube, que torna as nossas palavras mágicas: "O que significa ser Humano? TEDx Porto"

O mundo precisa de saber...

A mistura do Ruanda


A mistura do Ruanda,

Não se pode dizer que seja uma surpresa, pois é a 4a vez que aqui passo, mas é um pedaço de terra deslumbrante em África, que me desperta imensas emoções, nem todas elas boas infelizmente... Rebolbino o filme 9 anos, e vejo aquele miúdo a transbordar de querer, e inundado em vontade, que se lembra de quase todos os minutos deste pitstop para o Congo que tanto me marcou... Com alguma estranheza por já não saber bem onde está aquele miúdo, revivi cada momento como se do mundo dos mortos estivesse a ver a minha vida outra vez... O Ruanda é lindo e é verde... e se eu não repetir as palavras lindo e verde mais do que 10 vezes estarei a ser injusto com tudo o que deveria dizer... Há uma parte de mim que adorava voltar atrás, e fazer com que esta fosse outra vez a primeira... Lembro-me de ter feito a estrada que fiz hoje numa só mistura de sensações, em que o coração e o cérebro pareciam embriagados com a beleza das montanhas do Ruanda, e das pessoas que nos enfeitam a estrada com os medos de uma primeira missão num mundo perigoso e desconhecido... E hoje foi também assim, uma mistura. Uma mistura do viver e do vivido, das memórias e do presente... que começou logo no Memorial do Genocídio em Kigali. Fiz questão de ir lá outra vez, para que a lição seja bem aprendida e nunca esquecida... Onde estava eu em 1994? Devia estar na rua com cartazes a dizer: Acabem com o Genocídio do Ruanda... deveríamos ter estado todos!
E depois esta África negra tão cheia de cor que nos invade a cada olhar, e nos deixa extramente alegres... Pela estrada fora, todo um mundo acontece, e não sei se é pela cor preta da pele que vemos tal desfile de cores... mas é lindo... e num fundo verde.
A ginga dos andares, o dançar como meio de transporte, os sorrisos que espelham almas, os rabos empinados das mulheres a trabalhar o campo... o Ruanda tem toda esta beleza da África profunda, num país limpo, civilizado que até chateia para quem vê algum encanto no caos dos seus vizinhos... para quem não conhece a história recente deste país até se surpreende com o civismo do Ruanda onde a polícia até é honesta!
Mas este texto é de mistura, e assim o é o Ruanda. Esta maravilha no coração de África foi e continua a ser construída pelas misérias do seu irmão maior, mais pobre e perdido nos confins da guerra: o Congo. Nada pode explicar o que se passou em 1994, e muito menos o que desde então se passa no Congo, com o apadrinhamento e patrocínio deste Ruanda, que explora e vive dos conflitos que diz estar alheio, mas onde colhem o seu maior quintão. E para mim, tal como foi há 9 anos uma agradável surpresa viver este Ruanda, também o está ser... mas a caminho do Congo... Será como quem usa uma casaco de Vison e no dia seguir vai ver o animal em agonia, sem pele, a morrer...numa morte lenta e dolorosa... como é a guerra do Congo.

É uma mistura este Ruanda, numa mistura de tempos e sentimentos na minha cabeça, onde o ontem e o hoje se confundem, entre o bom e o mal que este Ruanda significa para mim... para em breve despir o bonito casaco e ver o Congo a sofrer.