Iraque 4.0 - Do Humano para o Desumano




Saltitamos entre o humano e o desumano. Entre o corpo e a pessoa. Entre o ser vivo e a alma. Precisamos de ser desumanos para fazer esta profissão sem tremer, precisamos de olhar para o corpo como uma máquina, um desafio, com uma frieza robótica... Se deixamos entrar as emoções e vemos o humano, e vemos a pessoa, vai ser difícil executar tarefas num banho de lágrimas... Porque é isso, que sinto quando deixo entrar as emoções, um choro compulsivo que se auto-alimenta, que ganha vida própria. E eu não posso deixar entrar...

E nesta missão em Mosul, no Iraque foi essa pressão que já senti muitas vezes, mas nunca tantas vezes e nunca com esta intensidade. Preciso de ser um robot para ser médico nestas situações extremas com a vida e a morte entre os dedos como gelatina, mas são as emoções que me fazem querer lá estar, é o coração que me diz que este é o lugar do mundo onde quero estar. Porque fingir que não existe, é uma cobardia, é uma hipocrisia, é uma maldade. E ninguém quer ser má pessoa.
Receber levas de feridos era o normal. É um normal que ultrapassa, todos os níveis de anormalidade, é uma aberração, é feroz a qualquer alma, mas para nós é o normal. Por vezes sabíamos de antemão, outras vezes nem por isso, e sinceramente para este tipo de missão/hospital era quase indiferente. Era normal. Feridos graves a entrar pelas nossas portas do serviço de urgência. As bombas traduzem-se em mortos e em feridos. Assim é a guerra. Os que me morrem no local fazem parte de outras histórias que eu mal conheço, os que estão entre a vida e a morte são a minha história. São as vozes que movem a minha escrita.

O nosso hospital, é o mais próximo que eu já estive de um milagre. A uns escassos kms da pior batalha que há memória, no meio de um descampado, murado a toda a volta, porque a segurança é volátil, encontrava-se um conjunto de tendas que vistas de fora eram incaracterísticas, despidas de qualquer interesse, mas por dentro fazia-se magia. Barricadas de betão à porta para inibir os bombistas suicidas em veículos, entrava-se por uma pequena porta que nos dirigia logo para o Serviço de Urgência, com uma tenda logo à direita de descontaminação para o caso de se usarem armas químicas. Cada tenda tem o seu papel, neste jogo de salvar vidas. Laboratório, Raio-X, Serviço de Urgência, Bloco Operatório, Cuidados Intensivos, e diversas tendas de enfermarias gerais. Também tínhamos uma área do hospital que nasceu nos entretantos por necessidade, que era um centro de nutrição para crianças. A fome em Mosul conseguiu matar ainda mais que as bombas. E as crianças pequeninas eram as mais vulneráveis. Tínhamos dezenas de crianças desnutridas todos os dias, mas estavam longe do meu espectro de acção. Assim como os centros de saúde a quem dávamos apoio para diferentes cuidados de medicina geral. Mas assim estávamos, entre tendas que se ergueram num ápice para fazer de hospital, durante esta página de sangue da nossa história.

Eu estava quase sempre no bloco operatório, mas com frequência corria entre a tenda do serviço de urgência e a tenda dos cuidados intensivos, dependo dos ciclos do dia e das vagas de feridos que recebíamos.

Neste dia fomos avisados que íamos receber vários feridos, inclusive discriminaram os níveis de gravidade... Nunca funciona na perfeição esta avaliação prévia, mas ficávamos com uma ideia. É incrível que enquanto esperamos pelos feridos, o ambiente é muito tranquilo, relaxado e até divertido. A equipa de expatriados é muito experiente, e os locais estavam há meses nisto. E como em tudo, o instinto de sobrevivência, obriga-nos a reagir com normalidade à mais atroz das anormalidades. Tranquilamente bebe-se café, fuma-se cigarros e conta-se piadas... sabendo que estamos a minutos de receber corpos ensanguentados. É normal. E o humor é das armas mais poderosas para reagirmos às adversidades extremas. É uma boia de salvamento no nosso mar de pensamentos tristes. Amor em tempos de guerra, já deu livros e grandes histórias... faz falta o mesmo sobre o Humor em tempos de guerra... Talvez um dia escreva esse livro se sentir que tenho arte para tal, porque não é fácil transcrever o humor...

Começamos a ouvir as sirenes. Está tudo a postos já de luvas calçadas. Os maqueiros correm como se fossem as olimpíadas, os responsáveis pela segurança observam o potencial de ocorrência de fenómenos estranhos e os feridos começam a ser colocados nas macas do serviço de urgência. A equipa está bem oleada, mas os corações aceleram. Eu nesta fase pareço um observador. Não toco em nenhum doente. Apenas observo. O prejuízo de me “agarrar” a um doente é não perceber o panorama geral de todos os feridos. Para mim é obrigatório tirar uma fotografia mental de toda a situação. Há um que entra cadáver. É este o momento em que eu deixo de ver pessoas e vejo corpos. Vejo seres vivos. Vejo tudo com uma frieza doentia. Neste momento estou desumano. Cruzo o meu olhar com os olhares hesitantes dos que estão à volta do cadáver, num burburinho desconfortável, em que eu percebo pelos seus gestos que se preparam para começar a reanimar. Eu aceno-lhes com a cabeça em sinal de discórdia e tranquiliza-me que tenham ficado confortáveis com a minha decisão. Para mim naquele momento é apenas um problema a menos para eu gerir. Tínhamos duas equipas cirúrgicas de expatriados, com dois cirurgiões e dois anestesistas. E a a responsabilidade das decisões de fundo alternava a cada 24hrs, porque era essa também a noite que íamos ficar no hospital mal dormidos. Uma em cada duas. É duro. E hoje sou eu.

Recebemos 7 ou 8 feridos, mas só há uma que me preocupa no imediato. Eu fico com esse. É um rapaz de 16 ou 17 anos. Tem o corpo cheio de estilhaços. É impressionante quando lhe começamos a tirar a roupa toda ensanguentada e vemos estilhaços dos pés às cabeça... pequenas feridas muitas delas punctiformes que lhe tatuam o corpo todo, cara inclusive. Este tipo de lesões são muito traiçoeiras para um médico, porque os espectro de possibilidades é tão grande como a nossa imaginação... Alguns destes estilhaços ficaram apenas na pele e não causam qualquer perigo, outros penetraram o torax ou o abdómen, causando lesões absolutamente imprevisíveis. Os sinais vitais (frequência cardíaca, respiratória, tensão arterial, etc) apontam para perdas sanguíneas muito significativas. Isto é como um jogo, como uma charada. Descobrir de onde está a sangrar. Dos diferentes locais por onde sangra, perceber qual o pior, e aferir se os locais por onde sangra se são passíveis de ser estanques ou nem por isso. O “nem por isso” é a morte.

Existe uma avaliação muito sistemática para todas as vitimas de trauma e a experiência ajuda-nos a fazer isto muito rápido e com chavetas de organização mental muito bem estruturadas. Que neste caso são adaptadas às condições que temos. Por exemplo, um traumatismo craniano grave, não tendo TAC, nem neurocirurgia, nem capacidade de ventilar um doente no pós-operatório... é um doente que nas condições que temos, vai morrer. No meu mundo, tentaria salvá-lo.

Não é o caso. Este doente está é a sangrar, eu e a restante equipa temos é de descobrir de onde e o como parar a sangria. Rapidamente pego no ecógrafo que é a minha arma favorita, e vejo que está a sangrar na cavidade torácica e na cavidade abdominal. Siga. É correr para o bloco. Nestes casos o Rx, também ajuda o cirurgião a ver, onde estão os estilhaços dentro das cavidades, e imaginar durante a cirurgia o trajecto por onde foram penetrando o corpo deste rapaz. A equipa está toda bem oleada. Sai um alerta ao laboratório para a necessidade de múltiplas transfusões de sangue, que me chegam às mãos em minutos, assim como a equipa do bloco operatório que se prepara rapidamente porque tem visto estas situações vezes sem conta... por dia! Os iraquianos com quem trabalhei são absolutamente incríveis. Rápidos, competentes, expeditos e proactivos, e de sorriso na cara. Apesar de, muitos profissionais de saúde terem sido raptados pelo Estado Islâmico para seu proveito, ou fugiram da guerra para bem longe... os que ficaram são incríveis e trabalham com uma motivação tão intensa que por vezes me trazia as lágrimas aos olhos de emoção... Quando por vezes lhes agradecia pela ajuda, ou pelo fantástico trabalho, ou por terem ficado horas a mais, as respostas eram sempre do género: “nós é que agradecemos... estamos apenas a tentar salvar o nosso país!” ... e é nestes momentos que tenho a certeza que o que nós estamos a fazer é muito maior que a minha vida, é muito maior do que a minha alma sonhadora possa imaginar...

Entramos rapidamente com o rapaz na tenda do bloco operatório. A equipa comunica, organiza-se, articula-se e sem demoras eu estou a anestesiar o doente, a ligá-lo ao ventilador, e coloco-lhe um dreno torácico de cada lado, enquanto a equipa cirúrgica se prepara para de bisturi na mão lhe abrir a barriga. As hemorragias da cavidade torácica, a que chamamos hemotórax, em súmula tratam-se colocando um dreno entre as duas pleuras que tem como objectivo expandir os pulmões e promover o fim da hemorragia. Se sangrar pelo dreno em abundância, começamos a entrar no “nem por isso”, porque abrir o torax envolve um leque de recursos que não temos.
O abdómen é de leitura mais complexa e as possibilidades são diversas. O cirurgião abre a cavidade abdominal a meio com uma incisão grande desde as costelas até à bacia. E a partir daí tenta perceber de onde vem o sangue.

E é aqui que estamos. O cirurgião abre-lhe a barriga sai sangue em grande quantidade, e o rapaz quase que morre. A tensão arterial está a descer vertiginosamente até que o cirurgião encontra a fonte da hemorragia, que é o baço. Mãos muito treinadas, rapidamente clampa o feixe vascular que irriga o baço, e os sinais vitais começam a melhorar. As transfusões a entrar, o cirurgião inspeciona com mais calma toda a cavidade abdominal para ver se há algo mais a corrigir, e eu “entretido” em trazer o equilíbrio fisiológico que este rapaz precisa, para que todos os seus orgãos, de um corpo que esteve às portas da morte, recuperem rapidamente... Começamos a trocar os primeiros sorrisos de vitória ainda tímidos... Os drenos torácicos fizeram o seu papel e tudo tranquilo nesse capítulo. O cirurgião já sacou o baço cá para fora e está contente com a sua revisão de todos os locais de hemorragia em potencial, a hemoglobina está estável, os sinais vitais em vias de normalizarem... e a equipa começa a respirar com outra tranquilidade... Resolvemos a charada. Ganhamos o jogo.
Como estava com a situação controlada, enquanto o cirurgião terminava a cirurgia, eu resolvi sair do bloco operatório para ver como estavam os doentes nos Cuidados Intensivos, que era na tenda ao lado. Eram 10 metros num passadiço de cimento.

Quando saio da tenda do bloco que tem ar condicionado, apercebo-me que a manhã avançou e levo com uma onda de calor, como se tivesse a abrir a porta do forno. São umas 10.30/11.00 da manhã e já estão quase 50 graus. Parece que sou agredido por este bafo de calor, e para minha surpresa sou imediatamente encarado por um homem, cuja a cara eu reconheço por o ter visto com ares de preocupação extrema no serviço de urgência... é o pai do rapaz. Com o shalwar kameez tradicional em tons de castanho, de lágrimas nos olhos e as mãos juntas embrulhadas num fio de contas que os muçulmanos por vezes usam para as suas orações (mishaba), este homem dirige-se a mim em Árabe, e embora eu não tenha percebido nada do que ele me disse, percebo que me pergunta pelo seu filho. Este é o momento em que o corpo daquele rapaz passa a ser uma pessoa. É o click do desumano para o humano. Mas este foi muito forte, inesperado e apanhou-me totalmente de surpresa... Num microsegundo olho à minha volta para ver se alguém me pode ajudar na tradução, mas nada. Estou sozinho, de frente para o pai que me olha apreensivo, e o que me ocorre é usar das poucas palavras que sei dizer em Árabe, e juntamente com o polegar para cima digo-lhe “Tamam”, que significa “Tudo bem”, apontando para o a tenda do bloco... O homem profere várias expressões que envolvem Allah, e ajoelha-se aos meus pés abraçando-me as pernas a chorar... Claro que prontamente eu ajudo-o a levantar, movimento este que imprevisivelmente termina num abraço... Eu tento segurar, mas não consigo e caiem-me as lágrimas ao mesmo tempo em que as lágrimas do pai do rapaz já se transformam em sorrisos...

Nunca tinha sentido tanta intensidade nesta passagem do ser vivo para a sua alma, do corpo para a pessoa, do desumano para o humano... Foi dos momentos mais bonitos da minha vida...

Precisamos de ser muito frios para que a ciência nos domine nos momentos de maior adrenalina no meio de uma guerra terrível, mas é quando deixamos entrar as emoções que percebemos porque é que ali estamos, e porque é que não imagino a minha vida sem estar ali. E entenda-se que o “ali”, é apenas do lado dos que fazem a coisa certa, que pode ser feita em qualquer parte do mundo, a qualquer momento...

Quando penso neste abraço e na alegria deste pai, por o seu filho não ter sido mais para a estatística numa guerra que matou milhares de rapazes como este, e deixou milhares de pais e mães de joelhos a chorar sem se levantarem para um abraço... cresce em mim um sentimento que é simplesmente mágico.... Uma mistura do poder das pequenas coisas, com a felicidade que nos invade por ajudar quem precisa, e ainda a energia que nos move quando sabemos que lutamos pelo que está certo.


Do humano para o desumano... mas sempre com volta para o humano. Sempre!

Iraque 3.0 - Há Sempre Algo de Bonito


A história que vou contar pode doer na alma, mas é uma história de almas bonitas.
O Estado Islâmico ocupou uma enorme parte do norte do Iraque e do nordeste da Síria. Fê-lo de uma forma oportunista aproveitando a fragilidade destes povos, que os leva a aceitar a religião como a única solução para a opressão e ostracização dos seus lideres, e acenando com a palavra de deus para domínio de mentes perdidas, no seu desespero de quem já não tem nada para perder. Fê-lo também través do terror e do medo manietando todas as liberdades e vontades de quem pudesse pôr em causa o seu jugo de poder. Fê-lo torturando, violando, matando e destruindo todos e tudo, com uma maldade, uma frieza, uma violência física e psicológica que é difícil encontrar paralelo na história. Fê-lo em nome da sua ignorância e aproveitando-se da ignorância dos demais que iam caindo nas teias do seu domínio quer pela força, quer pela necessidade de sobreviver perante a impotência contra a palavra de deus e a lei da bala e do mais forte. Quando entraram no caos da guerra da Síria e se aproveitaram do desgoverno duma oposição ao regime Sírio, o mundo ficou perplexo pelas suas tácticas de terror e repressão à população Síria e pela sua estratégia de “markting” no youtube ao decapitar um jornalista americano ao vivo, em nome da jihad (guerra santa). Mas ninguém estava à espera e ninguém queria acreditar que estes homens de cara de mau, barba comprida e bandeiras pretas poderiam controlar com tanta passividade e facilidade a 2a cidade do Iraque com cerca de 2 milhões de pessoas, Mosul. E muitas mais pequenas cidades à volta, dominado uma enorme fatia deste país e uma grande parte da sua população. Os tempos mudaram. Já não era só uma ideologia do mal, era um estado, o auto-proclamado Estado Islâmico do Iraque e da Síria, ou Iraque e Levante, ou Daesh que quer dizer estado em Árabe. Por mais que alguém se esforce nunca ninguém será capaz de descrever com uma fiel e verdadeira representação da realidade, todo o terror que este gente fez, e de todo o sofrimento que uns largos milhões de pessoas passaram sob o seu jugo.

Se é que a definição de “guerra justa” pode em algum momento fazer sentido, este parecia ser um deles. O mundo ocidental uniu-se ao exército iraquiano para derrotar este terror negro que se espalhou no mapa do berço das civilizações. A reconquista, a libertação são obviamente palavras de quem mostra enviesamento moral entre estas forças que se opunham... Mas foi muito duro. Foi à custa de muito sangue e destruição que se foi diluindo e reduzindo a mancha negra do território do Estado Islâmico e outras tantas atrocidades foram cometidas em nome desta reconquista. Muitos tiros, muitas bombas, muita tortura e muitas massacres foram precisos para com alguma facilidade o exército iraquiano por terra e a coligação internacional pelo ar (com os EUA à cabeça) empurrassem, como que encurralassem o Estado Islâmico para Mosul. Parecia que estava a ser fácil e rápido até se chegar a Mosul, mas a paranoia e a falta de amor á vida dos combatentes do EI faziam prometer em voz alta que a batalha por Mosul, ia ser até ao último homem. Com a agravante que cada vez menos era uma guerra a céu aberto, porque a estratégia do EI passava por sequestrar todos os 2 milhões de civis de iraquianos que há quase 3 anos viviam aprisionados na sua terra. Todos que tentassem sair eram mortos, pois a vantagem do EI era ter o maior número de escudos humanos alguma vez visto. À medida que a coligação chegou às bordas da cidade e a zonas mais densamente populadas, os ataques pelo ar tornavam o número de vítimas inocentes incomportáveis para os ganhos militares... A guerra começou a ser rua a rua, quarteirão a quarteirão, porta a porta... À medida que a coligação avançava o EI não desistia de matar pelas costas todos que tentavam fugir, e de destruir tudo que deixava para trás, auto-sitiando-se e escudando-se em tantos quantos podia... A cidade de Mosul, é atravessada pelo rio Tigre que desenha o historicamente famoso crescente fértil, e define assim a parte antiga de Mosul Oeste, e a parte mais nova de Mosul Leste, que era o lado por onde a coligação de forças atacava ferozmente o EI, que não estava disposto a baixar os braços nem por nada. Toda a reconquista foi à bomba, aos tiros, à custa de milhares de vidas, ainda assim Mosul Leste caiu rapidamente, até chegarem ao rio cujas pontes num raio de centenas de Kms foram todas destruídas. Parecia pequenina a parte que faltava libertar, mas foi mais sangrento do que todo o conflito até então.


Lia-se em todos os noticiários e em todas as línguas, o maior sofrimento colectivo de que há memória... 600.000, e depois 500.000, e em seguida 400.000 o número de Iraquianos sequestrado pelo EI ia diminuído a muito custo à medida que as forças da coligação avançavam para o centro de Mosul Oeste. Os relatos das pessoas que iam sendo libertadas eram dilacerantes... Apertavam-nos o coração com tanta força que por vezes se tornava difícil de respirar... Sem água, sem comida, com medo das bombas do “fogo amigo”, e com medo de levar um tiro nas costas de um sniper do EI se tentassem fugir... Muitos tentaram com a família inteira e ficaram todos estendidos na estrada, de cara para o alcatrão, por vezes deitados em cima de bebés de colo que estavam vivos e que ninguém se atrevia a ir salvar... Ou os feridos que ficavam a sangrar nestas ruas que escreveram a história a sangue e sofrimento...

O hospital onde eu estava era a sul de Mosul Oeste, e íamos recebendo as levas de feridos quer frescos de uma batalha que não tinha um minuto de pausa, quer os já com vários dias ou semanas que se refugiaram nas suas casas à espera que chegasse a sua casa, o bilhete de saída, com a libertação pelas forças de coligação.

Vi de tudo, e as histórias de uma tristeza capaz de rebentar até as almas mais frias, empilhavam-se na minha mente... Dá vontade de mandar tudo á merda, de virar as costas e vir embora, ainda não sei até hoje até que ponto sou também vitima desta guerra por ter sido tantas vezes abaulado com realidades duras de mais para digerir...

Em mais um dia de calor tremendo, recebemos mais uns quantos feridos de uma zona de Mosul que acabara de ser libertada. As expressões e os olhares não são só de dor, são de apatia, de desistência... pessoas que deixaram de ser pessoas, para serem apenas seres vivos.

Eu entro no Serviço de Urgência com o objectivo de rapidamente estratificar gravidade dos feridos, para ver se havia doentes para levar a correr para o bloco operatório... Quase como um observador externo, faço uma radiografia à situação e cruzo o meu olhar com olhos que viram o que nunca ninguém devia ter visto... Seguro-me com força para não chorar (choro agora enquanto escrevo), mantenho as minhas antenas de médico bem focadas para não deixar entrar as emoções... Penso como uma máquina que salva vidas, mas por dentro estou destruído também. Excepcionalmente não fomos a voar para o bloco com dois ou três doentes, como quase sempre acontecia, todos estavam foram de perigo vital no imediato porque eram feridos de dias ou semanas... E como tal encosto as minhas atenções numa menina que devia ter uns 11 ou 12 anos. Vou lhe chamar Wadjda.

A Wadja está deitada numa maca e com a coxa direita e abdómen tapados com um penso gigante coberto por ligaduras... A Wadjda está acompanhada do pai que nos conta a história. A mãe morreu debaixo dos escombros de parte da casa que foi vítima de uma bomba qualquer... uma das infinitas bombas que rebentaram com aquela cidade... O pai ficou ileso, e a Wadjda ficou parcialmente debaixo dos escombros de barriga para baixo, com o tronco os braços e a cabeça livres, e com a bacia e as pernas entaladas de baixo do entulho... Isto foi há 3 semanas, e a Wadjda ficou com uma ferida gigante na perna, coxa e bacia do lado direito. À medida que o pai conta a história, os enfermeiros preparam-se para começar a abrir o penso para que pudéssemos ver a ferida... Eu estou à espera daquilo que já vimos tantas vezes, uma ferida suja, infectada cheia de pús, putrefacta e com um cheiro que nos obriga a dar três passos a trás... Muitas vezes obriga-nos a amputar e até a vida pode estar em risco... Mas o espanto foi bem maior... a ferida gigante está limpa! Limpa, limpa, limpa! Sem um ponto de infecção ou tecido morto... vermelhinha, cheia de vida! Ficamos todos estupefactos, porque 3 semanas é muito tempo. Perguntei ao pai, como era possível este milagre, sabendo nós que os quase inexistente recursos médicos dentro das linhas do Estado Islâmico, eram apenas para os seus combatentes e suas famílias.

O pai começa a contar-nos que tinha alguns conhecimentos de enfermagem, já tinha trabalhado como auxiliar num hospital, antes da ocupação pelo Estado Islâmico, e como tal sabia que tinha que limpar a ferida, e mudar o penso com regularidade. Contou-nos que vendeu tudo o que tinha e também com a ajuda dos vizinhos, comprou compressas, ligaduras e betadine. Todos os dias, limpava a ferida e mudava o penso em sua casa... Contou-nos que pouco comeu para que a Wadjda se alimentasse bem para sobreviver a este trauma, contou-nos que nos últimos dias comeram gatos para sobreviver. Contou-nos que para ir buscar o material médico, várias vezes passava por snipers e que escapou por pouco, algumas vezes a balas que vinham pôr fim à sua história.

À medida que a história me ia sendo traduzida, o meu coração ganhava uma vida própria, e fugiam os meus pensamentos de esperança, compaixão e liberdade... E há muita coisa nesta história que eu não sei mas imagino, porque a Wadjda não tinha uma expressão de desistência... A Wadjda, estava emagrecida e doente, mas tinha um sorriso tímido de quem ainda quer uma vida pela frente, de quem sonhava, de quem tinha esperança... Este pai tratou-lhe de segurar e alimentar o corpo... mas também e alma, diante um mundo negro... Não sei como, mas esta menina sorria.

Foda-se, isto é lindo, pensava eu a borbulhar de felicidade dentro de mim...

Este pai e a Wadja deram-me força para continuar em Mosul, quando parecia que já não aguentava mais, e deram-me força nos dias mais tristes da minha vida...

Há sempre algo de bonito quando tudo parece negro, é só uma questão de procurar...
São estas as pessoas que têm que estar nas bocas do mundo, para que aprendamos e nos inspiremos a ser pessoas melhores.

Mas são também estes que estamos a deixar morrer no Mediterrâneo...

Iraque 2.0 - Passagem de Testemunho - "Agora és Tu!"

Este processo da escrita, é tudo menos um mar de rosas... Parece que cada vez mais me custa mergulhar nas minhas memórias, e não o sei fazer sem ficar profundamente emotivo. Porque aquilo que carrego no peito, às vezes parece demasiado pesado para ser digerido... Quando tento perceber porque é que quero continuar a escrever, acho que o que me domina é o compromisso. É a promessa que fiz a mim mesmo, a promessa que fiz ao melhor de mim, a promessa que me fiz em frente dos que me fazem querer escrever.... “tu vais contar o que viste! É o mínimo que podes fazer por esta gente! Esforça-te para contares o que viste!”.... e aqui estou eu, a tentar cumprir essa promessa.

A despedida é sempre muito intensa, é uma tempestade de emoções vividas no silêncio que ninguém poderia imaginar que se está a passar dentro de mim... A cada missão, a passagem da segurança do aeroporto é para mim a fronteira entra o meu amor e a minha paixão pelo que fica de mim para trás, e o fogo que alimento para ir fazer algo bonito mundo a dentro... É um mergulho para a profunda solidão, para o foco na missão, e para uma mente que de alguma forma se torna mais simples com a liberdade e a paz de espirito que isso me traz... Agora só tenho uma coisa na minha cabeça: A minha missão. Iraque, Mosul, e a sua população que precisa da muita ajuda. Confesso que é das coisas que mais gosto sentir em missão... é a simplicidade. Aos poucos vou desligando todo um ruído à volta da minha cabeça, e o meu cérebro passa a ver as coisas de uma forma mais clara, mais nítida... mais simples. E isso é para mim altamente pacificador, ainda que a caminho de um cenário de guerra...

Acho que é, por um lado a resposta ao stress que nos leva o foco apenas e só para o acontecimento mais intenso, e por outro lado a sensação que tudo o que realmente interessa está a acontecer ali e agora...

Eu estava de alguma forma dominado e afectado pela responsabilidade acrescida que o livro “1001 Cartas para Mosul” criava em mim... Sabia que ia ter conversas difíceis na sede dos MSF sobre o livro (noutro texto contarei a história) e tinha muita vontade em não falhar a minha promessa, de que aquelas palavras iriam ser entregues ao povo iraquiano com a maior força que eu conseguisse... Acho que nunca senti um peso de responsabilidade tão grande... Porque centenas de pessoas escreveram, traduziram, estiveram presentes nas apresentações, leram o livro e muito mais... e do outro lado milhões de pessoas que sofriam os horrores da pior guerra que há memória... E eu, apenas eu, muito só no meio destes 2 mundos... e como tal, saiu-me um peso de toneladas das costas, quando deixei o assunto do livro de lado, e me pude concentrar na missão propriamente dita...

Voei para Erbil, que é a capital do parte curda do Iraque. O Curdistão iraquiano tem uma autonomia relativa e uma identidade muito própria. A primeira sensação é o calor. É tão intenso que empurra para fora dos meus pensamentos tudo o resto. Estão 40 e muitos graus, no fim de Maio e já me parece que esta zona do planeta é inabitável... O calor é tão intenso que eu só penso... “eu não vou aguentar” ... é o instincto de sobrevivência que se sobre põe a todos os outros... é um calor literalmente de morrer e com tendência a piorar e em pleno ramadão... Assusta.

Entre conversas sempre muito interessantes com os responsáveis dos MSF, sobre a geopolítica do conflito, sobre as explicações do inexplicável e sobre as necessidades médicas da população consequentes desta batalha terrível, e a estratégia macro dos MSF interferindo em tantas fragilidades deste povo que chora lágrimas de sangue... aos poucos vou-me sentindo dentro de Mosul e cheio de vontade de fazer o meu papel, dar o meu humilde contributo para esta gente e as suas dores... Nessa noite em Erbil, que é uma cidade bem desenvolvida, civilizada, ainda que muito perto da guerra está bem estável na sua paz... fui jantar com uma equipa de médicos que acabavam de regressar de Mosul... Um anestesista italiano, e um cirurgião belga que eu até já conhecia do Congo, que era uma referência nos MSF, como um dos cirurgiões mais competentes e experientes neste mundo médico tão particular... Enquanto bebíamos uma cerveja e comíamos um kebab qualquer num sítio bem simples, eu fazia o meu trabalho de casa ao tentar absorver tudo o que podia destes dois senhores no verdadeiro sentido da palavra, já na casa dos 60s/70s, onde os seus cabelos brancos já contavam com muitas e muitas missões mundo a fora... Estavam cansados, e acima de tudo aliviados... Cansados porque não foram poucas as noites sem dormir a salvar vidas, cansados porque doí na alma ver dia após dia, noite após noite a desumanidade nas suas mãos, cansados porque muitos morreram à sua frente e muitos mais que estão no seu imaginário de quem sentiu os ecos da guerra, dentro das tendas do hospital... E aliviados porque chegou ao fim o seu papel, com um sabor agridoce, mas de missão cumprida. Eu senti que enquanto desabafavam sobre os terrores da guerra, e os casos clínicos mais complicados, de quando em vez me olhavam e pensavam sem o dizer “agora és tu!”... Já tinha sentido o que eles estavam a sentir noutras missões, uma passagem de testemunho na exaustão física e psicológica, em que por vezes até me emocionava com lágrimas nos olhos ao receber a pessoa que me vinha substituir, por sentir os sintomas de “burnout” a me subirem dos pés à cabeça, na impotência de os evitar, enquanto houver gente a salvar... Eu já sabia que ia ser duro, mas o que eles me estavam a dizer sem o dizerem, é que ia ser mais duro do que alguma vez imaginei...

Arrepia e assusta, mas invade o meu corpo de uma motivação, e de uma profunda humildade, em que deixa mesmo no ponto certo o equilíbrio das forças da minha razão de existir...

Dormi sobre estes pensamentos e dormi pela última vez em paz, antes de fazer as 3 horas de viagem que me levariam à minha próxima casa, e à minha próxima família, em Mosul.


Iraque 1.0 - De Férias


Eu já, uma vez, tinha ido nas minhas férias... Foi 8 anos antes. Foi a minha primeira, e foi para Moçambique. Muitas vezes nas minhas “contas” nem conto com esta, porque sinto que fui apenas dar uma ajudinha, e talvez por isso ainda não tenha escrito sobre isso, mas tenho muito bem guardado tudo no meu coração, e na verdade foi onde tudo começou, e foi nas minhas férias e com o meu dinheiro. A vontade era tanta de seguir o meu sonho humanitário que estava disposto a tudo, de que forma fosse, eu só queria era ir... e assim foi... e assim fui. Espero um dia escrever sobre isso, sobre a primeira de todas as missões...
Desta vez foi bem diferente. Tudo começa num email. Estava no meu hospital a trabalhar e cometi o erro de abrir este email. Dizia qualquer coisa como: “Precisam-se com urgência de várias equipas cirúrgicas para Mosul”, e vinha acompanhado com relatos na primeira pessoa de médicos estrangeiros e iraquianos que descreviam os terrores da guerra do ponto de vista médico... Isso comigo é fazer batota. Eu já estava atento a Mosul há muito tempo, mas tinha uma missão prevista mais para a frente, e como quase todos os mortais, gosto de férias. Mas este email tocou-me nos botões certos, e tocou com muita força. “Não devias ter lido isto” dizia eu para mim, enquanto procurava no meu horário a forma para me libertar do hospital nas datas propostas. O coração volta a bater. Bate forte, bate fundo, até ecoa na minha cabeça o bater do coração ao ponto que empurra para fora todo e qualquer pensamento inteligível... Cria-se um campo de atração electromagnética que não tem antídoto.
Ainda tenho o email à minha frente, leio e releio o que já sei de cor. Sinto-me a tremer e nem sei bem explicar porquê. Porque eu já sabia do que se passava em Mosul, eu já sabia que os MSF lá estavam em força... Mas quando me batem à porta e me falam ao coração... até parece batota... Caiem-me as lágrimas, e nem sei bem porquê... Talvez porque sei que vou. Porque quero muito ir, porque me vai custar horrores dizer à minha mãe com a “publicidade” que Mosul tem tido nas notícias, porque não sei como vou dizer à minha namorada, porque deveria ter férias antes da outra missão já prometida, porque sei que vou. Meti todas as férias e respondi: “contem comigo”. E é aqui que começa a missão.

Fazer as malas é fácil, preparar-me para ir para a pior batalha desde que há memória é bem mais difícil. Leio todos os documentos, procuro documentários e vídeos todos os dias para melhor perceber o que se passa em Mosul, e os relatos são assustadores. São assustadores, são aterrorizadores, são desesperantes, são inumanos, são nunca vistos, são a página mais negra da história desde há muito tempo, choram-se lágrimas de sangue como nunca antes, na terra que é o berço das civilizações... Depois da guerra Irão-Iraque (80 a 88) e da guerra com os EUA nos 90s, e depois da guerra de 2003, o Iraque não precisava de mais uma catástrofe apocalíptica.

Mosul e uma enorme parte do norte do Iraque (e uma grande fatia da Síria) foi ocupada e controlada pelo mais maléfico grupo terrorista que há memória, o Estado Islâmico. Os milhões de Iraquianos que foram subjugados pelo Estado Islâmico, sofreram durante 3 anos a terrível, opressão, sufoco e castração a todos os níveis que possamos imaginar. Agora era o momento do exército Iraquiano, fortemente apoiado pela pujança militar do ocidente, com os EUA à cabeça, para a reconquista e libertação de Mosul, de longe a cidade maior e mais importante sob o domínio do EI.

Sem qualquer espécie de capacidade de igualar o poderio militar que os ameaçava, a estratégia do EI estava sustentada na loucura e determinação fanática dos seus combatentes que não hesitam em oferecer a sua vida pela causa que acreditam, juntamente com a declarada utilização da população como escudos humanos, que se encontravam encurralados e sequestrados pelas armas dos Jihadistas, que não pestanejavam ao disparar sob homens, mulheres ou crianças que tentassem fugir ao seu controlo. 

Imaginem-se na pele desta gente. Estiveram 3 anos esganados pelo fanatismo destes homens de negro que lhes cortaram a liberdade e o oxigénio para respirar, e agora com a decisão que ninguém quer ter de tomar perante as diferentes ameaças de morte... A fome, a sede, as doenças oportunistas da pobreza, as bombas do fogo amigo, ou um tiro nas costas com extensão para a execução de toda a família de quem tentasse fugir do reduto do Estado Islâmico. O que escolher?
Deveria ser escrita a sangue fresco, este pedaço da nossa história, para que a humanidade se envergonhasse para todo o sempre. A guerra foi muito dura, e cada história de vida muito mais...

Depois de ter aceite a missão em Mosul, passava parte dos meus dias a ver e sentir o que lá se passava, e a mensagem que dominava os gritos de alma que me chegavam ao coração era: “o mundo esqueceu-se de nós”, era o que eu ouvia em cada criança a chorar, em cada desespero de uma mãe, em cada poça de sangue, em cada bairro arrasado pela destruição moderna... Eu nunca tinha estado tão emocionalmente envolvido, tão sensibilizado e também tão motivado antes de uma missão, como desta vez... A minha vontade de fazer algo por aquele povo, pelo seu sofrimento transbordava nos meus pensamentos... Numa noite do início de Abril, quando fechei os olhos para tentar adormecer, só vejo e ouço os gritos daquela gente sincronizados com as bombas a cair... “Pensa, pensa, pensa!!! O que eu que eu posso fazer?” era tudo o que eu pensava... Tinha as ideias e reflexões a girar em rodopio dentro do meu crânio que parecia vazio... Gosto muito do que faço, é inquestionável que salvar vidas de quem não merecia morrer é importante, mas não chega. Eu sinto que não chega. “O que é que eu posso levar para Mosul, para além dos meus saberes, e do meu trabalho?” ... fui invadido por uma ideia. Escrevi uma nota no telemóvel para não me esquecer: MENSAGENS PARA MOSUL. Esta ideia aliviou a minha inquietude, adormeci mais em paz, por ter alternado o foco da minha atenção do problema, para o que nos meus sonhos prometia ser algo mais próximo da solução. 

Foi uma boa ideia, mas não foi uma boa altura para ter uma boa ideia. Quase que morri no processo de cumprir a minha palavra e de materializar as minhas promessas. Mas foi a coisa mais bonita que fiz até hoje, o livro “1001 Cartas para Mosul”. Um projecto 100% voluntário, com palavras de uma profundidade emotiva que amolecem o mais duro dos corações, tudo traduzido para Inglês e para Árabe. Quase que morri, de tanto stress, de tanto trabalho, de tanta pressão que crescia á medida que via este projecto/livro a agigantar-se. Ainda não tinha partido em missão para a pior guerra dos últimos tempos, e já estava exausto. Mas também ainda sem sair de Portugal, já tinha feito algo de bonito... Pôr Portugal e o mundo a olhar os Iraquianos nos olhos e unidos no sentido de pura humanidade...
A apresentação do livro foi um hino às paixões humanitárias. Gente importante, televisões, mas acima de tudo muita gente boa... Saiu-me um peso enorme das costas, a partir do momento em que em Portugal o livro agora podia voar sozinho... Eu fiz as malas, onde consegui que coubessem 28 livros à custa de ter levado pouco mais do que isso, despedi-me dos meus e fui para Mosul, agora já concentrado na única coisa que sei fazer na vida... Ser médico, salvar vidas.

Vou começar a escrever sobre a minha missão em Mosul. Não vai ser fácil.


Peaceful Revolution

Peaceful Revolution

You Start and you Fight.
In Peace, you Fight Hard,
You Fight with your Art
You struggle with your Heart,
No Blood, No Evil, but you Fight.

You bring down Tyranny,
Scare away greed for power,
You Fight.
Turn the game around,
Till your death if you might,
With your Heart, you Fight.
Will Power is your Light.

Stop the war, and Fight.
Change the world, change yourself,
Be a bloodless Knight.

Be Good, Be Honest, Be Humble,
Be Bright.

Throw Bombs of Love and Peace,
Start a Revolution day and night,
Be Brave and Fight,
Beauty is more than a Sight.

Bring Democracy, Bring Humanity, Bring Equality,
Do it Right.
It takes just One to start a Fight.