Esta é a história do Amor.
De amor? Não! Do Amor.
Quem me contou, viu tudo o que se passou.
Foi o Não. Sim, o João Não. E o Não não mente.
O Não viu o Amor nascer, na mais pura das pobrezas, com uma beleza ingénua
de quem nada tem. As ruas moldaram o carácter do jovem Amor.
O Amor tinha aquela magia, de quem ri e faz sorrir. Tinha aquele encanto
hipnotizante e contagiante, de quem brilha e faz brilhar. Nem o mais dos
sisudos, resistia a anunciar a sua passagem com um: “Olá Amor!”.
Já na escola, o João Não seguiu de perto o brotar do Amor. O Não não teria estado tão perto, não
fosse a sua mais-que-tudo pequena Manuela, companheira de aventuras de meninos
e meninas, na mesma sala de aulas do pequeno grande Amor.
Manuela de caracóis loiros, e olhos tímidos deliciava a classe docente. O
seu também doce, saber estar, fazia prometer o fim da guerra no mundo, para as
delícias do meu amigo Não orgulhoso.
O Amor cresce, a Manuela também, e o amor explode.
No antagonismo, se solidifica a cumplicidade. Crescem um no outro,
impregnam-se mutuamente, por todas as linhas do corpo até às impressões
digitais.
Mas calma! Desenganem-se! Esta é a história do Amor, não é uma história de
amor.
Manuela Não, queria mais da vida, boa cabeça, muita ambição, foram os
ingredientes suficientes, para voltar costas ao amor pelo Amor, e seguir sua
vida para a capital estudar Direito.
Claro! O Amor escureceu de raiva... Com uma visão da vida mais curta, mais
pura, mais intensa... O Amor sem amor perdeu o norte.
Diz o Não, que o Amor já não é humano.
O Amor misturou-se com o álcool, não se poupou às drogas, tornou-se
agressivo. Uma besta, um monstro! Com os olhos raiados de sangue rosnava à
vida, amedrontava as ruas.
Ocorreu um crime, nas ruas de toda a gente... Apesar de ninguém ter visto,
os dedos foram todos na direcção deste horrível Amor.
Enjaularam-no como um animal, antes que a fúria popular desse a sentença
antes do julgamento final.
Indiferente com o destino da sua alma, arrasta o barulho das pesadas
correntes para dentro dum tribunal em fúria e diz o Amor: “Não fui eu!”
Já ninguém acredita no Amor. Mas a juíza, surpreendam-se, era a filha do
João.
E, Manuela Não acreditava no Amor.