O meu nome é Ahmed. Não desistir da minha cidade, que eu amo, Aleppo, tem
sido uma escola de vida.
Dizer que estou habituado, em nada ameniza a minha dor.
Tinha 17 anos, quando o rastilho da primavera Árabe, nos deu forças para ir
para a rua, na crença que estava também na nossa hora de ser livres...
Mas aqui, os sonhos pagam-se caro!
A minha juventude, aliou-se à minha rebeldia, na luta pela utopia, e fui
atrás das palavras de ordem que ecoavam, nas ruas do meu bairro; “Democracia,
Liberdade, Fim da Ditadura”, para me juntar à manifestação dos que respiram o
meu sangue. A minha mãe chorava, enquanto agarrava os meus 3 irmãos, e eu sem
pensar, disse-lhe o que me ia na alma; “Mãe, vou para a rua, pela Síria! Se eu
não voltar, é porque fui com ela!” E foi a última vez que senti o calor da
minha mãe. Na minha ausência, um MIG, bombardeou o meu prédio, e com ele desapareceu
tudo o que tinha.
A viver na rua, sozinho com o mundo, a minha luta mais difícil, foi
prometer a mim mesmo, que nunca levantaria uma arma. Mas luto com a coragem
inigualável de quem já não tem nada a perder.
Escrevo.
Leio.
Faço escrever.
E faço ler.
Aleppo despiu-se da sua alegria milenar, e viu fugir as suas mães e seus
filhos, para bem longe dos seus horizontes, para bem longe dos presentes
explosivos que recebe dos céus.
Eu escrevo e leio por quem o não sabe fazer, e todos os dias luto contra as
probabilidades de quem entra e sai da cidade, para que o amor, os carinhos, as
saudades, e os manifestos de esperança se façam chegar, entre a cidade e parte
das suas gentes fugidas, nos campos de refugiados que cresceram como cogumelos
na fronteira.
Mas aprendi, que viver é perder.
Já há muito, que não temo pelas bombas, mas o peso das cartas que carrego,
não pára de aumentar. Todos os dias, vejo a dor das mães que cavam fundo, a
ferida de quem perdeu um amor, o desespero das mulheres, que nunca mais terão
quem lhes alimente os filhos.
Aqui os sonhos
pagam-se em lágrimas, em sangue, em vidas.
E todos os dias
me pergunto, com quantas vidas se escrevem as palavras, “DEMOCRACIA, LIBERDADE,
FIM DA DITADURA”, nas terras da minha amada Síria?
Desistir? Não,
obrigado!
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