"Eu achei que estava preparado, mas não estava. Nunca estive e espero nunca estar. Ninguém devia estar preparado para isto...
Espero que a história nunca se esqueça de contar em letras bem gordas, aquilo que os nossos irmãos do Iraque estão a passar. Para que não nos esqueçamos, para que aprendamos a lição, porque no fundo, no fundo é culpa de todos nós!
É um pedaço do mundo que se está a afundar, e se não o segurarmos com muita força vai nos arrastar a todos para o abismo.
As pessoas,.... sim, são pessoas, o que elas têm passado.... perderam-se membros, rebentaram-se vidas, destroçaram-se famílias, abandonaram-se crianças.... e testemunharam-se atrocidades que eu teimo em não conseguir compreender...
Ninguém sabe quantos fugiram, ninguém sabe quantos morreram, ninguém sabe quantos vivem em condições desumanas, ninguém sabe quantos ainda lá estão.... Mas sabemos que são nas escalas dos milhões e dos milhares.... e são pessoas, são seres humanos!!
Segurei as lágrimas, porque nos gritos e nos últimos suspiros de vida, vejo uma hipocrisia dum silêncio e duma inacção que matam.... Tudo porque achamos que estas pessoas, não são pessoas.... mas eu vi e vos garanto, são pessoas! E alguns tenho a sorte de agora chamar de amigos.... e admirar a sua força, a sua alma, a sua resiliência, e sentir como transbordam a esperança e amor...
Deixei um pedaço de mim, mas trouxe uma vontade de gritar e de lutar ainda maior por tudo aquilo que tantos ao meu lado, teimam em me relembrar... Todas as vidas são iguais, e o mundo precisa de saber....
Desejo de há muitos anos, conhecer o Iraque, conhecer esta gente, e reforçar a minha alegria de viver.... Porque só assim vejo um sentido de vida, e porque aqui encontro a mais bonita das medicinas..... assim como a melhor parte de mim...
Mosul sangra, como quase nunca se viu, mas a sua gente mostrou-me uma força que poucos têm... Tenho o coração lacerado, dorido, a derreter e cansado..... mas trago comigo uma dose forte de “Obrigado, fizeste um bom trabalho!”.... e só isso rebenta–me as veias de tanta força para continuar....
Talvez nunca possa, talvez nunca saiba, como contar tudo o que vivi....
Talvez a última, ou talvez a sétima de setenta, mas certo é: um orgulho gigante por trabalhar para os Médicos Sem Fronteiras e acima de tudo, tudo e todos que eles representam....
Saudades de ti..... Porto! (Mosul, 28 de Junho de 2017)"
In "1001 Cartas DE Mosul" o livro das respostas que saiu AGORA.
Sinopse "Depois de 3 anos da horrenda ocupação pelo Estado Islâmico, Mosul foi vítima de uma batalha sangrenta durante 9 meses. Cerca de 2 milhões de pessoas foram usadas como escudos humanos à mercê das bombas, snipers, fome e várias doenças, no maior sequestro colectivo que há memória.
Mas de Portugal um movimento da sociedade cívil organizou-se para o envio de centenas de cartas na forma do livro “1001 Cartas para Mosul”, que abriram um canal de comunicação que parecia impossível. Cada uma das palavras carregada de compaixão, esperança, amor e muito espírito humanitário. Mais de 500 livros foram distribuídos em Mosul.
Este livro é o das respostas. Conta-nos o que vai no coração dos iraquianos que sofreram o inimaginável. O que querem eles a dizer ao mundo?"
Se estiverem interessados no livro que acabou de sair: https://www.egoeditora.com/1001-cartas-de-mosul.html
Ou podem encontrá-lo em todas as apresentações que ando a fazer deste e do meu livro "O Mundo Precisa de Saber" pelo país fora .
Gostaria que partilhassem com todos os interessados nomeadamente todas as pessoas envolvidas que escreveram, traduziram, desenharam para o 1º livro do ano passado "1001 Cartas PARA Mosul" (o livro do ano passado)
Fi-lo por paixão.
Que nunca deixemos de sonhar...
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