
De dentro do avião, contemplo a beleza das montanhas e de olhos colados à
janela imagino a quantidade de sangue e sofrimento que aquela terra já viu... O
coração aperta e bate mais forte, viajo dentro da viagem....começo a sentir
aquilo que não se explica.... vive-se quando a realidade nos bate de frente.... e
ainda nem tinha chegado.... só a aproximação arrepia, e a antecipação invade-me
o corpo já muito cansado da viagem.... Kabul, cidade de importância histórica
intocável, é rodeada de altas montanhas a 360º, quase como de uma cratera se
tratasse.... A aproximação à cidade de avião é espectacular, com as montanhas
totalmente cobertas de neve, prova de um inverno rigorosíssimo, onde os -20ºC
são a temperatura mínima
espectável.... Vivo um misto de admiração e agradecimento, pelos incríveis
momentos, com um friozinho na barriga por estar prestes a entrar num dos países
mais perigosos do mundo....

À saída do avião, estigmas de um país subdesenvolvido, apresentam-me o que
me esperava..... confusão e desorganização brutais! Olho com espanto para o
carimbo do meu passaporte que agora diz Afeganistão! O ritual de espera das
malas, marca bem a diferença civilizacional..... tudo em cima uns dos outros,
anarquia total, e a probabilidade de ser roubado parece altíssima.... e não me
parece que os perdidos e achados sejam de confiança ;). Mas acho piada a este
caos que funciona.... ou vai funcionando. Respiro de alivio quando pego na minha
mochila.... e fico encantado por ver uma prancha de snowboard a chegar no
tapete!! Depois li algures que alguns jornalistas mais aventureiros, fazem
snowboard algures nessas montanhas.... infelizmente não será por aí a minha
ventura ;).
Ao passar as malas no Raio-X, com a presença de muita segurança/militares, perguntam-me se me podem abrir a mochila pequena e que garrafas trazia lá dentro.... Eram 6 cervejas, pois é legal entrar com uma quantidade de álcool até aos 2 Litros, e todos os estrangeiros trazem do duty free do Dubai, porque em Kabul é muito difícil beber uma cerveja, e quem aqui fica algum tempo, sofre de desejos de um copinho para descontrair... Então um militar, abre-me a mochila, contempla as cervejas, tira uma, e diz-me com a maior das latas a rir-se para mim “taxa de aeroporto”, e mete a cerveja debaixo da mesa! Ou seja, fui roubado, “in your face”, mesmo.... mas restam-me poucas alternativas do que rir de volta fechar a mochila e seguir caminho! Cabrão! Engulo a minha pequena revolta, pois não me pareceu sensato estar a discutir ali, cheio de gente com armas.... apenas pelo meu orgulho.... o cansaço ajudou-me também a aceitar o acontecimento com mais passividade...
(estádio de Kabul onde se faziam execuções públicas) |
Ao passar as malas no Raio-X, com a presença de muita segurança/militares, perguntam-me se me podem abrir a mochila pequena e que garrafas trazia lá dentro.... Eram 6 cervejas, pois é legal entrar com uma quantidade de álcool até aos 2 Litros, e todos os estrangeiros trazem do duty free do Dubai, porque em Kabul é muito difícil beber uma cerveja, e quem aqui fica algum tempo, sofre de desejos de um copinho para descontrair... Então um militar, abre-me a mochila, contempla as cervejas, tira uma, e diz-me com a maior das latas a rir-se para mim “taxa de aeroporto”, e mete a cerveja debaixo da mesa! Ou seja, fui roubado, “in your face”, mesmo.... mas restam-me poucas alternativas do que rir de volta fechar a mochila e seguir caminho! Cabrão! Engulo a minha pequena revolta, pois não me pareceu sensato estar a discutir ali, cheio de gente com armas.... apenas pelo meu orgulho.... o cansaço ajudou-me também a aceitar o acontecimento com mais passividade...


Chego a casa dos MSF, após breves apresentações, caio inanimado de cansaço,
e durmo para me preparar para o que aí vem.... a missão que abracei, numa das
zonas mais perigosas do mundo, onde o conflicto está bem activo, no sul do
Afeganistão....
Ainda falta um bocado, e só descanso quando estiver a fazer o que gosto e
sei.... salvar vidas!
Mal posso esperar!
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