Achei que era
importante partilhar, porque acho que é importante que percebam, aquilo que
também agora, volto a perceber.
“Porque é que vais?
Porque é que foste? Porquê? Porquê? Porquê?” Perguntas que me fazem e que eu
próprio faço a mim mesmo, com alguma frequência.
O triste
incidente, 2 ou 3 dias depois de ter passado a fronteira de regresso, só
reforçou este exercício de auto-questão: “Porquê?”
Os perigos bem
reais e conhecidos, talvez tenham até sido subestimados…. e com essa constatação,
o isolamento do resto do mundo cada vez é maior. Uma onda de raptos sem paralelo,
leva a que cada vez mais não existam olhos que nos digam o que se está passar,
e mãos que ajudem os que sofrem.
Esta carta
ajuda-me muito, e espero que vos ajude também, a responder a algumas perguntas.
Acho que ainda é
cedo para escrever sobre a Síria, mas vou aqui abrir uma curtíssima excepção
porque recebi esta carta que abanou aqui a minha estructura.
É importante que
nunca nos esqueçamos, que são estas as pessoas que aparecem nas estatísticas
…..gente boa, seres humanos….como nós.
Na Síria, conheci
e vivi, com pessoas fantásticas. As histórias de vida, desta Guerra contadas na
primeira pessoa foi sem dúvida o que mais me marcou em toda esta experiência,
muito mais do que as muitas bombas que caíam perto de nós. Em todas e como
nunca eu sentia: “podia ser eu”, “isto podia me acontecer a mim”, “ e se fosse
a minha família?”, “ninguém está livre que um dia o seu mundo vire de pernas
para baixo e venha dar a algo parecido com isto!!” Estas histórias (que um dia
vos contarei), batiam-me muito forte, contadas por gente que aprendi a admirar
e a respeitar à medida que nos íamos conhecendo melhor. Eles sabiam porque é
que nós lá estávamos, e sentia que muitos davam a vida por nós e pelo que nós
representamos…..e aconteceu, porem-se às frente de uma arma apontada a um de
nós….entre muita outra coisa.
No dia 2 de
Janeiro, grupos de gente mal intencionada, levaram 5 elementos internacionais
dos Médicos Sem Fronteiras, …. E com eles levaram muito mais do que
isso…..levaram ao encerramento de muitos hospitais dos MSF na Síria, levaram a
que milhares de pessoas ficassem sem qualquer acesso a cuidados de saúde, e
levaram a esperança. A esperança que algumas dezenas de pessoas carregam nas
suas mochilas, ao deixarem os seus mais queridos a morrerem de preocupação,
para que possam levar a palavra de milhões, à Síria, ao vivo e a cores, para
dizer “Nós estamos aqui!” “ Há muita gente no mundo que se preocupa convosco!” ,
apenas porque acreditamos que uma vida é uma vida, achamos que vale a pena
levar cuidados de saúde de elevada qualidade, onde eles são mais precisos e
onde ninguém quer estar. Eu não posso sequer imaginar, o que os meus 5 colegas
e amigos passaram, e muito menos, a angústia das suas famílias, amigos e
amores…. do não saber…. da incógnita….. das infinitas possibilidades de horrores
que a nossa mente nos cria….. Terrível! Felizmente de volta a casa, mas com
marcas profundas em muita gente, que não saem com água e sabão, inclusive em
mim.
Mas e há sempre
um Mas. E os que lá ficaram. Os que ficaram sem amparo, este povo, cujos os
adjectivos pecarão sempre por escassos, com famílias e famílias destroçadas.
Uma nação ferida, um país a sangrar….Tantos e tantos!?!? E tão boa gente! E nós
não vamos fazer nada? Depois de lerem isto ainda acham que é perigoso? Perigoso
é deixarmos de dar valor à vida humana. Perigoso é perder e empatia pelos que
sofrem. Perigoso é acharmos que as nossas vidas valem mais do que as deles….
Carta escrita aos
MSF, de agradecimento da comunidade da cidade de Kafranjie, de onde vinha a
maior parte do nosso staff, e muitos dos nossos doentes…
Façam click na imagem que vale a pena ler estas lindas e emocionares palavras! |
É esta a minha
resposta aos “Porquês?”
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